No século XIX, o Romantismo transmitia, pela representação de personagens literárias, uma conduta de submissão feminina que compactuava com os valores morais da época. Nos dias atuais, a escritora nigeriana Chimamanda Adichie alega que o problema do gênero consiste em descrever como devemos ser, em vez de reconhecer quem somos, o que comprova um modelo arcaico enraizado na sociedade. Nesse sentido, a cultura de assédio no Brasil é fruto de reflexos históricos e, para garantir o respeito e liberdade à mulher, intervenções são necessárias.
Primeiramente, uma das causas dos assédios é a visão machista sobre a conduta feminina. Mesmo que o Feminismo tenha assegurado maior autonomia política e social à mulher, o patriarcalismo ainda a subjuga pela sua vestimenta, direito de ir e vir e empoderamento. Desse modo, os ideais conservadores se sobrepõem à realidade. Em 2016, a revista Veja entrevistou a esposa do vice-presidente Michel Temer, em uma reportagem intitulada “bela, recatada e do lar”. Tal chamada unifica o papel da mulher, pois o machismo justifica que aquelas que fujam a esse padrão ao usarem roupas curtas e saírem desacompanhadas estão propícias ao abuso.
Além disso, há hoje a banalização do assédio e as redes sociais se tornaram uma ferramenta para tentar combatê-lo. Nas ruas, festas, trabalho e até dentro da própria casa as cantadas, puxadas no cabelo e as tentativas de reprimir a vítima à violência sexual são ações que se naturalizaram, já que acontecem cotidianamente na vida de muitas mulheres. Para engajar jovens e adultas contra a sensação de impunidade, campanhas virtuais como “Meu Primeiro Assédio”, “Me avisa quando chegar” e “Vamos juntas?” percorreram o Facebook e o Twitter a fim de denunciar as opressões vividas, trocar experiências e atrair a atenção da mídia e das pessoas para conterem esse mal.
Portanto, a cultura de assédio se solidificou na sociedade brasileira. A fim de alterar o olhar machista, debates e aulas de conscientização às crianças nas escolas fomentarão o respeito aos direitos da mulher. Ademais, os meios de comunicação, com impacto apelativo, devem transmitir noticiários sobre a equidade de gêneros e problematizar a banalização do abuso, induzindo a reflexão e mudança na conduta dos indivíduos. O Governo, ainda, sendo mais punitivo nas leis contra essa situação garantirá o reconhecimento da liberdade feminina, como anseia Chimamanda.