Ao afirmar em sua célebre canção “O Tempo Não Para” o grande cantor e compositor Cazuza faz, de certo modo, uma comparação entre o futuro e o passado. De fato, ele estava certo, pois o ato de cancelar alguém como forma educativa ou punição não é um raro. Desse modo, na contemporaneidade, as dificuldades ainda persistem seja pela intolerância atribuída na educação em optar pelo corte de alguém como forma de punição em massa, seja ela virtual ou social, seja pela objetificação na qual é mais fácil cancelar alguém especificamente porque não concordo com suas ideologias e opiniões por ser opostas à minha.
Sob essa perspectiva, convém enfatizar que a ignorância educativa está entre as principais causas dessa nova punição presente na sociedade atual. Nessa óptica, durante o reality show da TV Globo em 2021, a rapper Karol Conká foi eliminada com o maior índice de rejeição já registrado em outras edições do reality. Sob esse viés em entrevista com a própria emissora, a rapper relata ameaças sofridas em razão ao seu cancelamento, cuja análise aponta como motivo o seu comportamento na casa, ela relata também sua dificuldade na reinserção social. Dessa forma é inaceitável que em pleno século XXI, haja tanta discrepância da parte do ser humano em querer cortar alguém da sociedade por seu estilo de vida, modo de falar e agir.
Outrossim, a coisificação como mais um dos fatores que agravam esse impasse. Nesse contexto, durante o decorrer dos tempos, é muito mais fácil descartar alguém assim como descartamos um copinho no cesto de lixo ou na rua, uma vez que a uma oposição de ideias posso me afastar de determinada pessoa e ainda fazer com que outros não se aproximem dando o meu ponto de vista sobre suas atitudes opostas às minhas, convencendo-os de que minha conclusão está correta. De maneira análoga, é inconveniente que na atualidade a sociedade use o termo descartável ao se referir à pessoas apenas pela não concordância de ideias, opiniões, posicionamentos ou até mesmo estilo de vida e o comportamento.
Fica evidente que a intolerância educativa na atribuição de punição e a objetificação de pessoas são prejudiciais ao ato de cancelamento como medida educativa e que, portanto, é necessário mudanças. Por isso, o Estado, a exemplo o Ministério da Educação e o Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, deve promover projetos de apoio e ajuda na reinserção social de vítimas do cancelamento , por meio de palestras, divulgação em redes sociais, etc. Nesse sentido, o intuito de tal medida é auxiliar estes que têm dificuldades para voltar a sociedade e, consequentemente, minimizar o ato do cancelamento, pois de maneira alguma cancelar alguém é punição ou correção educativa. Feito isso, com mais conhecimento sobre os impactos do cancelamento poderemos reduzir gradativamente esse problema, sendo assim ter expectativas de que essa metodologia não será mais aplicada como punição.