É inevitável: comida podre gera embrulho no estômago, e o vômito, apesar de desconfortável, proporciona alívio. Analogamente, sob a ótica existencialista de Sartre, a náusea – advinda da busca inatingível de preencher os padrões impostos pela sociedade - é expelida pela realidade, uma vez que a positividade exacerbada dissolvida nas redes sociais é inalcançável e irreal. Nesse sentido, percebe-se a configuração de um complexo problema, que se enraíza na mentalidade retrógrada dos indivíduos e na má influência midiática.
Diante dessa conjuntura, é preciso discorrer acerca da lenta mudança no pensamento coletivo. Para o sociólogo Durkheim, “o homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela". De fato, a ação individual resulta de um coletivo problemático quanto à propagação de padrões de felicidade, visto que as pessoas, ainda, acreditam nos paradigmas impostos pelos influenciadores digitais, de que tudo vai ficar bem ou é apenas pensar positivo, e esquecem que lidar com os problemas é muito mais complexo do que simplesmente acreditar que tudo um dia vai se resolver. Por conseguinte, tal postura gera a frustração em perceber que, na prática, somente raciocinar de forma positiva não é o suficiente para solucionar os entraves pessoais. Assim, urge que a base sociocultural seja revista para que o comportamento do indivíduo mude.
Ademais, a negligência da mídia atua como coadjuvante na questão. Conforme Pierre Bourdieu, a mídia foi criada para ser instrumento de democracia e não deve ser convertida em mecanismo de opressão. No entanto, ela tem se mostrado opressora ao incentivar a propagação de pensamentos positivos extremistas, uma vez que os veículos midiáticos – enquanto percursores do conhecimento – não transmitem para o público o quão grave é difundir um pensamento otimista exacerbado, além de fomentar tal prática abusiva, como por exemplo, nas pautas dos programas, mostrando somente uma realidade utópica e não abordando a realidade do dia a dia dos brasileiros. Dessa forma, é necessária uma postura mais democraticamente responsável da mídia para superar o problema.
Logo, medidas estratégicas são necessárias para alterar esse cenário. Para isso, o Ministério da Educação – órgão responsável pela administração das redes de ensino do país – deve promover palestras nas escolas, por meio de rodas de conversa com psicólogos, a fim de atualizar a mentalidade do corpo social em relação à crença no pensamento positivo e mostrar a gravidade de acreditar em tudo o que se vê na internet. Essa ação pode, ainda, ser divulgada para toda a comunidade, de modo a alcançar mais pessoas. Paralelamente, é preciso intervir na inoperância dos meios digitais presente na questão. Com essas ações, espera-se que a positividade seja de fato real, pois ela desenjoa o homem.