Na obra literária “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, do escritor pré-modernista Lima Barreto, Major Quaresma, protagonista da obra, acreditava que, com a superação de alguns obstáculos, o Brasil viria a se tornar uma nação desenvolvida. Caso estivesse vivo na hodiernidade, o personagem, caracterizado pelo patriotismo, classificaria a crise social causada pelo uso de substâncias psicoativas no Brasil como um empecilho para o desenvolvimento nacional. Nesse prisma, destacam-se dois aspectos importantes que permitem a continuidade dessa problemática: a desestrutura familiar e a desigualdade social.
Em primeira análise, evidencia-se que, devido ao contexto familiar conturbado, os jovens podem vir a utilizar drogas como um mecanismo de suporte. Na série “Euphoria”, a personagem Rue, após a morte do seu pai e distanciamento da mãe, passou a consumir alucinógenos a fim de entrar em um novo estado de consciência, o que a fazia se sentir bem. Desse modo, é notório que o meio em que o usuário está inserido pode influenciar no seu comportamento social, como com o uso de substâncias psicoativas. Sendo assim, faz-se necessário a mudança desse cenário nefasto.
Além disso, vale-se destacar que o aumento do número de usuários desse tipo de droga está relacionado ao crescimento da disparidade socioeconômico. Segundo o sociólogo Karl Marx, as desigualdades sociais são ocasionadas por condições anteriores ao nascimento, de forma que nem todos os indivíduos recebem as mesmas condições financeiras durante a vida. Sob este viés, o materialismo histórico de Marx é válido para analisar a situação contemporânea em que ocorre uma associação entre a miséria e o abuso dos entorpecestes, estimulando uma maior diferença no acesso aos direitos. Dessa maneira, é perceptível que o uso de drogas é uma consequência da exclusão dos mais marginalizados.
Depreende-se, portanto, a adoção de medidas que visem diminuir a crise social oriunda da utilização de substâncias psicoativas. Dessa forma, é essencial que as famílias desenvolvam estratégias para ajudar o dependente químico com o intuito de demonstrá-lo que o tratamento é um mecanismo de auxílio. Outrossim, urge que o Ministério da Saúde - órgão responsável pela melhora da qualidade de vida - formular, por meio de palestras com profissionais capacitados, campanhas que abordem a problemática do uso dos estimulantes, a fim de que o número de usuários seja reduzido. Somente assim, o Brasil virá a se tornar uma nação desenvolvida, assim como esperado por Policarpo Quaresma.