A intolerância no meio virtual

O romance intitulado O Ateneu, do escritor Raul Pompéia, narra a história de Sérgio, um garoto que desde a tenra idade é enviado pelo pai para um internato renomado na cidade do Rio de Janeiro, ambiente em que vivencia situações cotidianas de violência e opressão, tornando o colégio um microcosmo da realidade. Tal como na ficção, a Internet se apresenta como uma reprodução do mundo externo, em que a falsa sensação de anonimato encoraja alguns indivíduos a disseminarem discursos de ódio e a propagarem agressões verbais contra aqueles que divergem de opinião. Dessa maneira, é necessário refletir sobre as relações do meio social e modificar os processos educacionais para combater o problema.

Em primeira análise, a intolerância, o preconceito e a discriminação sempre foram partes integrantes da humanidade. Durante a idade medieval foram criados paradigmas religiosos entre cristãos e pagãos, e os que não professavam a religião vigente na Europa Ocidental eram perseguidos e torturados. No contexto atual, as diferentes formas de intolerância persistem, e na Internet, talvez, as pessoas se sintam mais livres para expressarem o que sentem, atingindo de modo intencional ou não a quem se dirigem. Vale ressaltar que a censura não é uma medida cabível para mitigar a situação, afinal, todos podem expressar aquilo que pensam, ainda que contenha teor ofensivo, todavia, liberdade não é sinônimo de impunidade, sobretudo quando o livre-arbítrio do outro é ferido.

Em segunda análise, a família é a principal instituição encarregada de ensinar a prática do respeito às diferenças. Contudo, numa sociedade em que a produção em curto espaço de tempo é hipervalorizada, as relações familiares acabam, muitas vezes, entrando em segundo plano, e assim, os jovens se refugiam no meio virtual, entrando em contato com uma gama de informações sem a supervisão dos responsáveis. Além disso, o Estado não pode se isentar de seus deveres, visto que a escola é o primeiro contato que as crianças têm fora do âmbito familiar e é onde as relações interpessoais são estabelecidas. No entanto, os educadores podem ter dificuldades em encontrar a melhor maneira de debater sobre o cyberbullying, uma vez que o uso da Internet e das redes sociais pode não ser tão ativo por esses profissionais como entre as novas gerações, além de que o tema só é tratado periodicamente.

Em vista dos argumentos discutidos, medidas precisam ser tomadas para reduzir a intolerância nas redes sociais. As Organizações Não Governamentais e as empresas privadas, como o Google, podem realizar pesquisas para traçar o perfil psicológico de agressores ou encontrar uma característica em comum do grupo, otimizando mecanismos para os usuários das redes sociais se defenderem. Além disso, as universidades devem abordar o assunto com mais frequência e profundidade para instruir os futuros professores, e o Ministério da Educação precisa promover a publicidade com ampla representação de grupos e indivíduos, bem como investir numa educação com base nos princípios da tolerância e respeito às diferenças. Portanto, a formação de um indivíduo consciente é imprescindível para a tolerância, e consequentemente, o desenvolvimento da sociedade brasileira.