Na obra naturalista "O Cortiço", de Aluísio Azevedo, é narrada a saga do personagem João Romão, dono de um cortiço do Rio de Janeiro descrito como um ligar insalubre que o personagem condiciona a si mesmo e outras pessoas desprestigiadas socialmente a conviver com a falta de dignidade habitacional. O livro, escrito no século XIX, faz uma crítica a segregação socioespacial que se perpetua na sociedade brasileira atual. Com efeito, atuam como desafios para o ajuste dessa chaga a gentrificação e o desordenado processo de industrialização.
Diante desse contexto, observa-se os impactos da mudança de dinâmica dos lugares - a gentrificação. Sob essa óptica, a valorização acentuada de determinada área culmina a saúde de moradores de baixa renda em razão do aumento local do custo de vida, propiciando essas pessoas à busca por uma moradia mais barata e, consequentemente, mórbida. Entretanto, de acordo com a Constituição Federal de 1988, o direito aos asseios básicos relaciona-se diretamente com o princípio da dignidade da pessoa humana e seus direitos fundamentais. Dessa forma, a ocupação urbana desordenada tem raízes na desigualdade social.
Além disso, outro desafio é o rápido e desalinhado processo de industrialização. Nesse cenário, as entidades industriais não necessariamente se preocupam com a falta de preparo das cidades para acomodar uma grande massa populacional, comportamento em que se observa a valorização do lucro em detrimento aos direitos promulgados pela Constituição Federal. Por conseguinte, os cidadãos ficam expostos a condições precárias no que se refere à saúde, moradia digna e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Sendo assim, as indústrias que não promovem o desenvolvimento sustentável agem de forma nociva à sociedade brasileira.
Portanto, é essencial que o governo mitigue os desafios supracitados. Para isso, a Secretaria Nacional de Habitação - responsável por acompanhar os instrumentos para a implementação da Política Nacional de Habitação -, em conjunto com o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, deve formular medidas práticas e interventivas, por meio de um projeto que será denominado como "Projeto Pró-habitacional", visando a melhoria da estrutura de zonas urbanas de baixo custo social, valorizando as pessoas em situação de carência econômica. Assim, a ficção de "O Cortiço" se tornará mais distante da realidade do Brasil.