Na obra "Ensaio sobre a cegueira", José Saramago descreve uma cidade distópica em que sua população gradualmente perde a visão. Na trama, o autor usa essa analogia para criticar a falta de altruísmo e cooperação no mundo contemporâneo. Sendo assim, pode-se observar que a obra exemplifica o atual cenário brasileiro, uma vez que os desafios ao acesso à internet no Brasil, representa um problema que apesar do seu impacto, não recebe a devida atenção no território nacional. Desta forma, torna-se imprescindível analisar como a negligência estatal e a desigualdade contribuem para a perpetuação desse quadro.

Dessa forma, em uma primeira análise, nota-se a inoperância governamental como fator agravante dos "desconectados" no país. Segundo o geógrafo Milton Santos em seu texto, "as cidadanias mutiladas" à cidadania só alcançam sua plenitude quando os direitos do corpo social de forma totalitária e homogênea forem desfrutados. Entretanto, a passividade do agente público perante tal cenário acaba distanciando a população sem acesso à internet dos seus direitos constitucionais garantidos. Desse modo, em consequência, essa parcela da população afetada acaba por sofrer desafios quanto as dificuldade no acesso à informação, ficando assim imersos na ignorância perante o restante do grupo social. Dessa forma, enquanto a máquina pública negligencia suas responsabilidades, os direitos dos cidadãos continuam a ser mutilados de forma sistemática.

Paralelamente, a desigualdade social é inegavelmente um dos grandes pilares que perpetua essa questão. Segundo o site g1. com , mais de 20% da população brasileira se mantém sem acesso digital e às redes de informação. Nesse viés, é notório destacar que tais fatos são reforçados pelo mal retribuição de renda no país, no qual grande parte da população se encontra sem condições de adiquirirem uma rede de acesso qualificada, seja pelas condições monetárias ou até mesmo por suas localidades, o que afeta diretamente na redução de oportunidade que o meio digital proporcionaria a elas. Diante disso, se mantém o quadro de falta de ações sociais efetivas, fragilizada assim, a plena cidadania.

Portanto, é fundamental que o Ministério da Educação, que tem o dever de garantir a informação dos brasileiros, em parceria com instituições sociais, implemente amplas distribuições de chips gratuitos de internet para todas as regiões, principalmente as de difícil acesso, escolas municipais e a população de baixa renda, a fim de garantir oportunidades igualitárias para toda a população. Essas ações também podem ser divulgadas por grandes perfis do Instagram e Facebook visando atualizar a mentalidade social sobre os deveres da comunidade com a própria comunidade. Dessa forma, tais ações tornam-se indispensáveis para o combate aos desafios com acesso à internet no Brasil. Assim pode-se mitigar a cegueira moral que permeia essa questão.