Na lei da Inércia, de Isaac Newton, a tendência de um corpo é permanecer parado quando nenhuma força é exercida sobre ele. Fora da Física, é possível observar a mesma condição no que concerne ao problema da má herança olímpica, que segue sem uma intervenção que o resolva. Nesse contexto, não há dúvidas de que o legado dos Jogos Olímpicos é um cenário desafiador no Brasil, seja em virtude da má influência midiática, seja pela negligência governamental.

Em primeiro lugar, é importante salientar que o comportamento da mídia é um fator determinante para a persistência da problemática. Segundo o sociólogo Pierre Bourdieu, o que foi criado para ser instrumento de democracia não deve ser convertido em mecanismo de opressão. Nessa perspectiva, a mídia ocasiona o silenciamento sobre a questão da priorização dos interesses financeiros por parte do Estado. Logo, enquanto a falta de debate se mantiver corrente, a sociedade segue desinformada sobre os projetos das Olimpíadas e o quanto beneficia somente a elite, como a remodelação da zona portuária do Rio de Janeiro.

Outrossim, é preciso destacar que a indiferença do Estado é um entrave que precisa ser solucionado. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, a taxa de investimento no Brasil está em seu menor nível dos últimos 50 anos, somando setores públicos e privados. Nesse contexto, para agir sobre problemas coletivos, como o legado olímpico, é preciso um bom investimento na segurança e na infraestrutura, que consequentemente gera muitos empregos. Por fim, seria negligente não notar que a falta de preocupação do Governo influencia em uma série de fatores colaterais, como o risco de terrorismo e a escalada de violência.

É inaceitável, portanto, que exista uma parcela significativa afetada pela má herança olímpica no Brasil. Dessa forma, o Governo Federal - promotor da ordem e do bem estar social - por intermédio do Ministério do Esporte, deve investir na infraestrutura, por meio de pontos estratégicos espalhados pelo país, a fim de gerar empregos e que todos possam ter acesso, inclusive pessoas de baixa renda. Ademais, cabe às plataformas midiáticas conscientizar a população sobre a importância de conhecer e acompanhar o que o Estado faz. Desse modo, certamente a afirmação de Pierre Bourdieu deixará de compor a sociedade brasileira.