O quadro expressionista "O grito", do pintor norueguês Edvard Munch, retrata a inquietude, o medo e a desesperança refletidos no semblante de um personagem envolto por uma atmosfera de profunda desolação. Para além da obra, observa-se que, na conjuntura brasileira contemporânea, o sentimento de milhares de indivíduos assolados pela arquitetura hostil, é amiudadamente semelhante ao ilustrado pelo artista. Nesse viés, é crucial analisar as causas desse revés, dentre as quais se destacam a negligência governamental e a má influencia midiática.
A princípio, é imperioso notar que a indiligência do Estado potencializa o controle dos espaços públicos. Esse contexto, de inoperância das esferas de poder exemplifica a teoria das Instituições Zumbis, do sociólogo Zygmunt Bauman, que descreve como presentes na sociedade, todavia, sem cumprirem sua função social com eficácia. Sob essa ótica, devido a baixa atuação das autoridades, os "designs hostilizados", persistem de maneira exacerbada e cruel, impedindo que grupos mais vulneráveis - como as pessoas em situação de rua -, não utilizem espaços públicos para se abrigarem. Nessa perspectiva, para a completa refutação da teoria do estudioso polonês, faz-se imprescindível uma intervenção estatal.
Ademais, é mister salientar, que a má influência midiática é um entrave no que tange ao problema. Posto isso, de acordo com Djamila Ribeiro, para atuar em uma situação, deve-se, antes de tudo, tirá-la da invisibilidade. Contudo, o que foi criado para ser instrumento de democracia, está se tornando um "baú de futilidade", visto que a mídia cede pouca atenção aos assuntos que realmente importam, fomentando na falta de informação, conjuntamente barrando os caminhos para acabar com a arquitetura hostil. Logo, é inadmissível que esse cenário continue a se perdurar.
Portanto, indubitavelmente, medidas são necessárias para amenizar esse impasse. Isto posto, cabe ao ministério das cidades, viabilizar a locação social, por meio de política habitacional empreendida entre Estado e iniciativa privada, para que famílias de baixa renda passem a ocupar imóveis vazios ou subutilizados. É necessário também, intervir sobre a má influência midiática. Espera-se, assim, que os sofrimentos emocionais retratados por Munch delimitam-se apenas ao plano artístico.