“Black Mirror” é uma série britânica exibida na plataforma Netflix que retrata de forma escarnecids as consequências de uma futura sociedade movida a tecnologia. Em um de seus episódios, é apresentado o assédio virtual sofrido por uma personagem em virtude de sua aparência, que acaba buscando padrões físicos inalcançáveis. Não distante da ficção, observa-se que, no Brasil, os efeitos da manipulação de imagem nas redes sociais não são diferentes dos retratados na trama, uma vez que a sociedade se vê influenciada por uma mídia mentirosa. Sob esse viés, torna-se necessário a analise acerca de causas, consequências e possível resolução da problemática.

De acordo com o sociólogo Pierre Bourdieu, o que foi criado para ser instrumento de democracia não deve ser convertido em mecanismo de opressão. De maneira análoga, salienta-se o efeito que a normalização de um único e esteriótipos de beleza apresentado na mídia tem coadjuvado para o aumento de mentiras na internet, em razão da opressão estética social exercida por usuários. Por consequinte, cada vez mais pessoas são impulsionadas a desenvolver uma falsa realidade ideológica afim de se encaixarem na premissa idealizada, o que se torna um ciclo contínuo e viciante.

Outrossim, é pertinente ressaltar que, conforme o filósofo Theodor Adorno, as mídias, como a televisão e o rádio, causavam danos à formação psíquica, moral e ética dos cidadãos, pois a máquina maliciosa de entretenimento estava no controle das grandes corporações midiáticas. Seguindo esse princípio, é possivel relacionar diretamente a degradação da distorção de imagem com empresas de cosméticos, visto que as mesmas são as principais fontes de venda da imagem estética inatingível, padronizando e massificando seus produtos como forma de rendibilidade. Dessa maneira, percebe-se que os cidadãos são inconscientemente moldados de forma consumista, podendo amplificar ainda mais o agravante em questão.

Em face do relatado, faz-se necessário que o Estado opere uma fiscalização das empresas privadas para que estas cumpram com a Lei Geral de Proteção de Dados e desenvolva um setor tecnológico que garanta a proteção de dados dos usuários do ambiente virtual. Ademais, observa-se que é premente a intervenção dos órgãos do Executivo, sobretudo do Ministério da Educação, com intuito de promover uma discussão qualificada por meio de campanhas sobre educação digital e o uso consciente da tecnologia nas escolas, universidades e ambientes que possa atingir o público jovem e, assim, evitar que a problemática pormenorizada na série se torne realidade.