No filme "Que horas ela volta?" apresenta uma realidade enfrentada por muitas mulheres com baixa remuneração no Brasil. Os papéis desempenhados pela mulher na sociedade brasileira são de extrema importância e possuem aspectos heterogêneos. Entre esses, tem-se o chamado serviço de cuidado, o qual não é prestigiado, nem muitas vezes se quer reconhecido como um trabalho de fato, demostrando invisibilidade do tema.
Nesse sentido, segundo a Oxfam, as mulheres são responsáveis por 75% do trabalho de cuidado não remunerado no Brasil, o que demostra a predominância do gênero feminino em detrimento do masculino nesse domínio. Seguindo essa lógica, observam-se dois pontos que se apresentam como obstáculos para o enfrentamento da problemática: a atribuição de funções específicas a gêneros distintos e a conceitualização do que é trabalho.
Primeiramente, é preciso compreender que há uma diferença na construção de cada indivíduo enquanto homem e enquanto mulher, uma vez que cada um desses gêneros é atribuída uma função distinta e, no caso do trabalho de cuidado, esse é feito, predominantemente por mulheres. Desde a maternidade até questões domésticas, o sexo feminino é encarregado do papel de cuidar. Assim, segundo o instituto de pesquisa econômica aplicada (IPEA), em uma pesquisa a qual recebeu o nome "gênero é o que importa", a produção dos papeis de gênero ocorre na medida em que há diferentes percepções dessas categorias a partir de práticas que afirmam a masculinidade e feminilidade, sendo o papel de cuidar totalmente ligado a mulher com a justificativa de possuir laços e instintos maternos mais aflorados, diferentemente dos homens, quando, na verdade, a função do gênero é uma construção social. A partir dessa observação, nota-se que a ocupação de serviços de cuidado é atrelado totalmente a mulher, sem que isso seja questionado, perpetuando o problema.
Além disso, tem-se a ideia equivocada, no senso comum, do que é trabalho. Para Marx, o trabalho é uma dimensão interminável da vida humana, ou seja, uma dimensão sem fim, visto que tem a função fundamental de servir a sociedade e, por meio dela, o homem cria sua realidade. Nessa perspectiva, os trabalhos que não possuem reconhecimento financeiro, como os de cuidado, exercidos, em sua maioria, por mulheres, são invisibilizados e conhecidos como uma função do própio gênero. Isso demostra que há uma barreira para que as mulheres possam ter os seus serviços reconhecidos.
Diante desse cenário, nota-se a urgência de propostas governamentais que alterem esse quadro. Portanto, cabe ao estado - cuja função principal é garantir o bem estar social e proteger os direitos de seus cidadãos, a implantação de mudanças no sistema, por meio da criação de leis e programas educacionais, tal reestruturação terá como finalidade promover a valorização do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, reconhecendo sua importância na composição histórica e cultural brasileira.