Na obra “Utopia”, do escritor inglês Thommas More, é retratada uma sociedade perfeita, na qual o corpo social padroniza-se pela ausência de conflitos e problemas. No entanto, o que se observa na realidade contemporânea é o oposto do que o autor prega, uma vez que o tratamento, livre de estigmas, associado aos portadores de doenças mentais na sociedade brasileira apresenta barreiras, as quais dificultam a concretização dos planos de More. Esse cenário antagônico é fruto tanto da negligência estatal, quanto da predominância da mentalidade capitalista sobre a vida em sociedade. Diante disso, torna-se fundamental a discussão desses aspectos, a fim do pleno funcionamento da sociedade.
Precipuamente, é fulcral pontuar que o estigma associado as doenças mentais no Brasil deriva da baixa atuação dos setores governamentais, no que concerne a criação de medidas que coíbam tais recorrências. Segundo o pensador Thomas Hobbes, o Estado é responsável por garantir o bem-estar da população, entretanto, isso não ocorre no Brasil. Devido a falta de atuação das autoridades, no que diz respeito a tentativa de estabelecer uma igualdade de tratamento entre todos os cidadãos, considerados capacitados mentalmente ou não, é visível o quão hostil e segregador vem se tornando as relações sociais. Desse modo, faz-se mister a reformulação dessa postura estatal urgentemente.
Ademais, é imperativo ressaltar a predominância da mentalidade capitalista sobre as relações sociais como promotor de tal impasse. De acordo com o filosofo e teórico da escola de Frankfurt, Theodor Adorno, vem ocorrendo um processo de “matematizaçao” da sociedade, no qual os indivíduos são todos observados e julgados sob a perspectiva do mundo produtivo, e aqueles que não se encaixam são descartados. De maneira análoga, a sociedade brasileira atual, já dominada pelo processo descrito pelo pensador, infelizmente, descarta os que são considerados incapacitados mentalmente, terminando por segregar, ao invés de tentar se adequar as especificidades de cada um. Tudo isso retarda a resolução do empecilho, já que a persistência da mentalidade produtiva sobre a vida social contribui para a perpetuação desse quadro deletério.
Assim, medidas exequíveis são necessárias para conter o avanço da problemática na sociedade brasileira. Dessarte, com o intuito de mitigar a questão do estigma associado as doenças mentais no Brasil, necessita-se, urgentemente, que o Ministério da Saúde, principal órgão federal capaz de realizar medidas no âmbito da saúde e bem-estar, em parceria com o Ministério da Educação, criem programas sociais que conscientizem os jovens acerca das doenças mentais e a necessidade de tratar aqueles que são tidos como inaptos cognitivamente de maneira igual e respeitosa, a fim de que a inserção desses a sociedade seja completa. desse modo, a coletividade alcançará a Utopia de More.