No livro "Utopia",do filósofo inglês Thomas More,é retratada uma sociedade harmoniosa,cujo corpo social caracteriza-se pela ausência de conflitos e problemas.Todavia,no panorama brasileiro,a realidade diverge do exposto na trama,sobretudo no que tange à saúde,a qual,embora seja um princípio assegurado mediante o Artigo 196 da Constituição Federal,apresenta certos entraves que impossibilitam sua concretização,dentre eles,a substancial taxa de transtornos relacionados às doenças mentais,o que reverbera no cotidiano dos cidadãos e,por conseguinte,gera nestes um estigma marcado por traumas, que afetam diretamente sua qualidade de vida.Sob esse viés,convém mensurar fatores concernentes a esse imbróglio no cenário contemporâneo.
Em uma análise inicial,vale aferir os dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde(OMS),os quais constatam que o quantitativo de mulheres atingidas pela depressão é aproximadamente um terço maior que o dos homens.Nesse seguimento,associa-se tal levantamento ao conceito de saúde designado pela própria OMS,como a condição de pleno bem-estar físico,mental e social e não somente a ausência de enfermidades.Nesse seguimento,infere-se que a esfera psíquica e emocional dos indivíduos é tão relevante quanto as demais para que estejam completamente saudáveis,visto que,apesar do sexo feminino ser de fato mais acometido,a problemática em pauta é um mal universal,que não escolhe raça,classe social e tampouco gênero e,desse modo,deve ser tratada com a devida relevância,o que deveras não ocorre no país.
Outrossim,em seu poema "No Meio do Caminho",o autor Carlos Drummond de Andrade faz alusão aos obstáculos encontrados ao longo da vida,nesse caso,as pedras mencionadas nos versos da obra.De maneira análoga,a banalização das doenças mentais constitui-se uma barreira para que esse revés possa ser combatido de uma forma mais eficaz.Entretanto,há casos em que o próprio sujeito resiste enquanto ao tratamento,seja em virtude do tabu criado em volta disso,seja pela não aceitação do problema,o qual além de prejudicar sua saúde,pode dar vazão aos conflitos internos,que,por sua vez,tendem a comprometer suas relações sociais.
Dado o exposto,urge que o Estado e o Ministério da Saúde intervenham frente às causas e efeitos decorrentes do estigma vinculado às doenças mentais na sociedade brasileira,mediante a elaboração de políticas públicas que viabilizem a implantação de um plano nacional que garanta o suporte aos sujeitos acometidos por essas mazelas,baseado em terapias com especialistas do Sistema Único de Saúde(SUS),a fim de possibilitar a reestruturação emocional desses indivíduos.Ademais,é necessária a produção de campanhas,em parcerias com as mídias,nas plataformas digitais e redes sociais,por exemplo,com vistas a gerar engajamento no combate aos preconceitos acerca dos transtornos psicológicos e fomentar o respeito ao próximo.Assim,essas ações visam atenuar o impasse em discussão,construir uma nação empática e solidária,bem como zelar pelo direito à saúde do povo,conforme disposto na Carta Magna.