No filme "Carandiru", é retratada a ida de um médico à maior prisão da América Latina. Entre a realidade carcerária, com péssima qualidade de vida, também é notado pelo médico que os prisioneiros, mesmo em meio a tantos problemas, demonstram habilidades e instintos intelectuais e artísticos, nada aproveitado pelo sistema da cadeia. Não longe da ficção, é nítida a falta de educação básica e estímulos a habilidades e artes para com os detentos, que acontece principalmente por conta do descumprimento do Contrato Social por parte do Estado, o que é fundamental para a reintegração do indivíduo na sociedade.
Nesse panorama, é visível o descumprimento do Contrato Social teorizado por Thomas Hobbes, onde os seres humanos aceitam sair de seu estado de natureza com o intuito de terem melhores condições de vida, se subordinando a um órgão regulatório. Nesse sentido, o Contrato Social não está sendo cumprido a partir do momento em que não há métodos de reintegração dos detentos na sociedade por parte do Estado, assim o tornando descumpridor de sua função social.
Nesse viés, tal situação remete á Lei Áurea, decretada em 1888, que, apesar de certificar a abolição da escravatura e a liberdade dos escravizados, os levou á margem da sociedade devido as baixas ou nulas oportunidades de vida pós soltura. Tal situação não se mostra distante da questão dos ex-presos, pois, uma vez em liberdade, se torna altamente necessária a reestruturação dos indivíduos outrora detidos, com o intuito de os reintegrar na coletividade e atuarem como cidadãos. Porém, tal necessidade não está sendo realizada, de modo que, após a liberdade dos ex-presidiários, há pouca ou nenhuma oportunidade de vida devido a baixa escolaridade dos sujeitos, que não apresentou mudança no cárcere.
Portanto, para que haja o cumprimento dos ideais de Hobbes, é necessário o investimento por parte do Estado nos presídios brasileiros, para que haja a melhora na qualidade de vida e infraestrutura do cárcere e dos detentos com a finalidade de tornar possível a estruturação de programas educacionais, como cursos técnicos e Educação de Jovens e Adultos (EJA), dessa forma havendo o cumprimento do Contrato Social com a reintegração dos detidos na sociedade, assim mitigando a questão da educação prisional no Brasil.