A obra "Utopia" de Thomas More, retrata uma sociedade perfeita, na qual o corpo social padroniza-se pela ausência de conflitos e problemas. Contudo, antagônico ao pensamento do autor, a coletividade brasileira encontra-se com a problemática do difícil acesso à cidadania, devido à carência de registro civil, acarretando em efeitos negativos ao bem-estar da sociedade. Essa realidade se dá não só em razão da má aplicação de leis, como também pela desigualdade social vivida no Brasil. Sendo assim, é imprescindível a análise desse cenário excludente, com o intuito de mitigar tal problemática.

Em primeira análise, vale destacar que a ineficaz efetuação de leis impulsiona os impactos desse quadro. De acordo com a Constituição Federal, através da Lei de número 9534, a sociedade possui o pleno direito de se registrar, entretanto, tal direito não é garantido na realidade, posto que grande parcela dos brasileiros sofrem os danos da invisibilidade, como a perca do valor moral diante da população e o inacesso à educação. Evidencia-se, portanto, que os indivíduos do território nacional encontram-se no mesmo cenário do livro "O cidadão de papel" de Gilberto Dimenstein, no qual os direitos e leis permanecem somente na teoria.

Ademais, a disparidade regional em relação à documentação pessoal é um fator alarmante para o progresso social. Consoante aos dados do IBGE, as regiões mais afetadas pela desigualdade de cidadania são o Centro-Oeste e Norte; regiões que, por sua vez, são as mais oprimidas economicamente e socialmente, visto que o escasso percentual de registros impossibilita o acesso ao trabalho e ao direito de votar. Diante dessa perspectiva, a sociedade nacional urge de mudanças, uma vez que, segundo o filósofo George Santayana, sem mudanças tampouco há progresso.

Verifica-se, então, a indispensabilidade em prover o alcance ao direito de cidadania em meio à comunidade. Para isso, cabe ao Governo Federal, juntamente aos governadores dos Estados, por intermédio de projetos e campanhas - como a campanha da UFRGS, que incentiva o acesso à documentação pessoal - proporcionar a efetiva aplicação das leis asseguradas pela Constituição Brasileira, que promovem os benefícios da cidadania, além de divulgar políticas públicas que distribuem os documentos essenciais à população nos locais menos privilegiados, a fim de que a sociedade nacional usufrua do corpo social presente no livro de Thomas More.

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