Na obra "A hora da Estrela" de Clarice Lispector a protagonista nordestina Macabéa, sem família, se muda para São Paulo em busca de uma mudança em sua vida, embora Macabéa seja uma pessoa apática como retratado na história, percebe-se que por conta de sua naturalidade a personagem sofre xenofobia ao chegar na capital, o que se opõe ao esteriótipo mundial da cordialidade e hospitalidade brasileira. Cordialidade esta, que por muitas vezes máscara a violência que a sociedade brasileira comete com seu próximo, tentando reduzir todas as formas de preconceito existentes.

Nota-se que em enumeras acusações de racismo, pessoas brancas em sua maioria tentam invalidar as denúncias com a justificativa de terem amigos ou família em tais características, portanto apelando para o afeto e a emoção tentando sair impune de tal situação, como descreve Sérgio Buarque em "Raízes do Brasil".

A cordialidade segundo Sérgio Buarque de Holanda é ambígua, ou seja, ela possui dois lados, o emocional afetivo e a violência, deste modo o brasileiro em todas as suas ações recorre à emoção em detrimento da razão. O sociólogo Marx Weber afirma que no convívio social há uma separação da comunidade e da sociedade, na comunidade comunidade está o tradicinalismo, o afetivo emocional e o privado, já na sociedade está a igualdade de direitos independente do afeto, o racional e o público. Para conviver em sociedade é preciso racionalizar comportamentos paranauê não haja interferência do emocional afetivo, contudo a partir da definição de cordialidade nota- se que o brasileiro não separa o público do privado, a comunidade da sociedade e assim a razão da emoção, não racionaliza sua convivência se pautando em tradição para personalizar as leis do convivo social.

Entende-se portanto, que a permanência do homem cordial não pode ser socialmente aceito para uma melhor sociedade, por mais enraizado que esteja no contexto social do Brasil. Sendo assim, buscando uma resolução palpável, o poder público tem um papel fundamental para a mudança, sendo na modificação de leis patrimonialistas com embasamento afetivo, na implantação de novas leis mais efetivas contra crimes de ódio e preconceito, sendo imparcial no julgamento e com punição mais efetivas para tal ato. A escola neste aspecto também tem o papel principal agindo na raiz do problema ensinando de forma didática a racionalização de Weber, mostrando o contexto para a separação do público e do privado a partir do estudo social, para que desta forma as gerações futuras entendam o seu papel na sociedade diferindo do seu papel em sua comunidade, entretanto nunca esquecendo a ética e a empatia.