O filme “Cinderela” retrata uma garota que realiza vários trabalhos domésticos em sua casa e não é reconhecida. A partir desse cenário filmográfico, ao se comparar com a conjuntura do Brasil atual, nota-se claramente vetores de semelhança entre a ficção e a realidade brasileira, constituindo-se uma demanda desafiadora a ser vencida pelo Poder Público. Isso posto, torna-se mister deliberar sobre desafio para enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher em pelo menos dois aspectos: desigualdade de gênero e inoperância estatal.
Nesse contexto, é indiscutível que o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher prepara pela desigualdade de gênero. Isso pode ser explicado pela ausência de igualdade social, onde este emprego cai desproporcionalmente em cima das mulheres. Sob essa ótica, a fim de fundamentar essa linha de raciocínio, traz-se a lume o ideário de Adrienne Rich, poeta americana, ao defender os direitos e promovendo questões de gênero, ou seja, ainda é uma preocupação significativa à população. Dessa forma, infere-se que a diferença do poder suscitará prejuízo aos mais diversos, que vão de desvalorização a exclusão, logo o resultado não poderia ser outro: baixo o índice de desenvolvimento humano.
Ademais, somando a desigualdade de gênero, outro aspecto relevante no debate acerca do enfrentamento da invisibilidade do trabalho cuidado realizado pela mulher é a inoperância estatal. Nessa perspectiva, um fator que justifica essa realidade são que o Estado não cumpre com a função social, não dá atenção e recursos suficientes para a resolver determinada situação. Para validar tal lógica, é sólido o argumento de John Stuart Mill, filósofo britânico, ao defender que a remuneração adequada é essencial para o bem-estar do trabalhador, isto é, sem ganhar adequadamente, a doméstica não responde satisfatoriamente em suas atividades profissionais.
Com efeito, urge combater esse óbice para não se deparar com um cenário definitivamente vergonhoso, como ocorre em São Paulo, por exemplo, em que uma funcionária do lar foi pedir aumento ao seu chefe, e ele desmereceu falando que ela não merecia e a demitiu - uma prova cabal do desrespeito às diretrizes da Constituição Federal de 1988, que firma, em seus fundamentos, ao trabalho como valor supremo de uma sociedade justa e asseguradora dos direitos individuais e coletivos.
Portanto, em razão ao enfrentamento da invisibilidade do trabalho e cuidado realizado pela mulher, deve o Governo Federal- instância máxima de execução pública- deve promover campanhas com a importância da valorização da mulher para o trabalho do cuidado. Essas ações ocorrerão por meio de portaria governamental específica, com a finalidade de diminuir os efeitos danosos da desigualdade de gênero e inoperância estatal. Assim tomadas tais diligências cenas como as retratadas no filme estarão distante da realidade brasileira.