É indiscutível que a fome seja um quadro cada vez mais alarmante no Brasil, tendo em vista que, além as tradicionais matrizes que originam esse problema, a pandemia agravou em grandes escalas tal situação. Situada num contexto de crise política e econômica, suas consequências são exponenciais e de natureza governamental.
Em primeira análise, observa-se, em meio a um cenário de inflação, crise econômica e capitalismo dependente, a incerteza dos brasileiros quanto à sua próxima refeição. Embora a atividade agropecuária tenha ganhado um crescimento de 1,4% em 2018 segundo o IBGE, o número de pessoas que passam por essa conjuntura de fome varia 13,9 milhões. Ademais, de acordo com o Grupo de Pesquisa Alimento para Justiça, 59,3% da população não comeu em quantidade ideal desde o início da pandemia.
Por conseguinte, é notório que essa insegurança provém de adversidades econômicas, desperdício de alimento — 931 milhões de toneladas, segundo a ONU, e, de acordo com a FAO, 46% disso ocorrem nas etapas de processamento, distribuição e consumo —, desemprego (fator intensificado com a chegada do coronavírus), falta de orçamentos para programas de combate à fome, dependência à importação de produtos químicos no segmento rural e a deficiência na estrutura política.
Em suma, tendo em vista os fatores estruturais e não momentâneos que levam o Brasil a possivelmente retornar ao próximo Mapa da Fome da ONU, compete ao governo reconhecer o problema e recriar programas por meio de investimentos em políticas públicas, uso de espaços públicos ociosos para produção de alimentos, reforço da merenda escolar, fortalecimento do salário mínimo, uso de tecnologia no combate ao desperdício e redução de custos a fim de diminuir a insegurança alimentar.