Em 1988, representantes do povo — reunidos em Assembleia Constituinte — instituíram o Estado Democrático a fim de assegurar a segurança como valor supremo em uma sociedade fraterna. Entretanto, os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil revelam que substancial parcela dos brasileiros não desfrutam do direito de se sentirem seguros na prática, o que se mostra grave problema. Dessa forma, há de se combater o silenciamento, bem como a negligência governamental.

Diante desse cenário, é crucial apontar o papel do silenciamento na problemática. Nesse sentido, percebe-se que a sociedade está contaminada por uma cegueira moral, tal qual a criticada por José Saramago em sua obra "Ensaio Sobre a Cegueira", em que a doença é utilizada como metáfora para a imoralidade. Ou seja, por não querer enxergar os desfavorecidos, o ser humano naturalizou a violência, a opressão e a ideia de que o trabalho de cuidado exercido pelas mulheres é uma obrigação e não possui importância significativa, uma vez que esses esforços não são remunerados e não há liberdade de escolha. Logo, é urgente tal situação seja combatida.

Ademais, é necessário que se desconstrua a ineficácia estatal. À vista disso, Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, desenvolveu o conceito de Instituição Zumbi, segundo o qual algumas entidades perderam sua função social, mas mantiveram — a todo custo — a sua forma. Sob esse viés, o Estado se configura como a instituição de Bauman, visto que possui iniciativa insuficiente em promover campanhas e fiscalização adequada, resultando na discriminação dessas trabalhadoras. Nesse contexto, tal indiferença faz com que a prática se perpetue.

Urge, portanto, que os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher devem ser combatidos em território nacional. Para tanto, cabe às instituições escolares, com veemência, garantir o desenvolvimento dos alunos, por intermédio de atividades lúdicas — propostas pela Base Nacional Comum Curricular — a fim de formarem indivíduos críticos e empáticos. Além disso, cabe ao Estado, no exercício de seu papel social, a ampliação de campanhas por meio de propagandas televisivas em canais abertos, como o intuito de uma maior conscientização. Destarte, a nação verde-amarela vivenciará, de fato, uma realidade análoga à Constituição e será mais justa e igualitária.