Na música "Cidadão", de Zé Ramalho, é retratada a vivência de um indivíduo que não tem direito a comer o alimento que ele próprio planta. Assim como na obra, fora da canção, essa é a realidade de muitos brasileiros. Tal problemática é resultante de múltiplos fatores socioeconômicos, a citar, o elevado índice de exportação agropecuária e a má distribuição de terras do país.
Em primeira análise, é válido ressaltar que o Brasil se encontra entre os maiores produtores de diversos produtos alimentícios do mundo, tal qual o milho e a carne bovina. Um país com produção altamente quantitativa não deveria apresentar níveis de fome tão alarmantes quanto 70 milhões de pessoas vivendo em insegurança alimentar, como afirma uma notícia publicada no portal G1. Esse fator é derivado da sobreposição do lucro financeiro ao bem-estar da população, visto que grande parte do que é produzido é vendido a outras nações. Logo, esse quadro constitui um desafio a ser resolvido pelas devidas autoridades estatais.
Ademais, ocorre no Brasil uma má distribuição fundiária, retratada no cartaz do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST): "Tem muita gente sem terra, tem muita terra sem gente". Enquanto a base da pirâmide populacional convive com a fome, a minoria do topo é detentora da maior porção de terras produtivas do país, as quais poderiam ser usufruídas para garantia da segurança alimentar. Isso demonstra a necessidade de medidas e reformas que visem uma melhoria na distribuição agrária do Estado Brasileiro.
Diante do exposto, portanto, torna-se imprescindível que o Ministério da Fazenda - órgão responsável pela formulação e execução econômica do Brasil - reveja a dinâmica operacional do país, que prioriza o acúmulo financeiro à qualidade de vida da população. Isso pode ser realizado através do aumento de taxações de exportação, somado a um projeto de reforma agrária, a fim de que os índices de insegurança alimentar nacionais diminuam. Dessa maneira, os versos da canção de Zé Ramalho se tornariam, então, cada vez menos recorrentes.