A capacidade de contornar situações que por vezes se mostram insolúveis e a recorrência de manobras previamente elaboradas, que nem sempre se enquadram na legalidade, cujo fim é esquivar-se de problemas configuram o chamado Jeitinho Brasileiro, pauta em inúmeros estudos sociológicos sobre o Brasil. Com raízes culturais que remontam à colonização do país, o jeitinho, embora também relacionado à capacidade de o povo tupiniquim se adaptar aos acontecimentos mais inesperadas, se sobressai negativamente, uma vez que muitos buscam obter vantagens pessoais transgredindo regras.
Primeiramente, é necessário enfatizar que a violação das convenções sociais, além de configurar um desvio de conduta, está na contramão dos ideais igualitários desejados por todos. Dessa maneira, situações encaradas como parte do cotidiano se mostram nocivas e contribuem para a manutenção de um sistema corruptível e desigual. Por isso, a banalização de atos egoístas e transgressores como furar filas, burlar blitz da lei seca, dar ou aceitar troco errado e comprar produtos falsificados legitima a aceitação de grandes corrupções que de tempos em tempos vêm à tona nos noticiários.
Por outro lado, o jeitinho brasileiro não pode ser encarado como totalmente negativo. Haja vista que a habilidade e o engenho para lidar com situações difíceis e até mesmo impossíveis constituem uma estratégia de sobrevivência social para muitos, principalmente se o alarmante atual cenário político e econômico do Brasil for levado em consideração. Existe, assim, um sentimento muito forte e comum aos brasileiros de buscar alegria e ferramentas alternativas para lidar com situações adversas. Mesmo que possa parecer controverso, é necessário encarar que essa característica adquirida no berço é um fenômeno muito mais complexo que uma simples dicotomia pode explicar e representar.
Fica claro, portanto, que há uma complexidade nessa ocorrência social que demonstra uma necessidade de avaliação por diferentes ângulos e considerações. Para tanto, é primordial que haja, por parte do governo, maior rigor e punição àqueles que praticam atos ilícitos, inibindo a cultura de impunidade; também é papel do indivíduo lutar por uma sociedade mais igualitária, sendo ativo na busca por seus direitos e não atuando de forma conivente e/ou omissa aos casos de corrupção de pequenas e grandes proporções; por sua vez, cabe a família transmitir valores aos jovens, para que estes se tornem cidadãos conscientes, formadores de um novo círculo virtuoso, capaz de alterar o cenário de banalização de crimes, constituindo um Brasil no qual o Jeitinho não seja mais visto como característica inerente e enraizada no brasileiro.