No livro "A Cor Púrpura", da aclamada autora estadunidense Alice Walker, a personagem Celie é constantemente agredida dentro de sua própria casa, mesmo sendo a responsável pelos afazeres do lar. Ilustra-se, nesse contexto, a invisibilidade das realizações femininas e o sofrimento resultante dessa situação. Analogamente, no Brasil contemporâneo, muitas mulheres têm os seus labores esquecidos pelo povo - em especial o trabalho doméstico e de assistência. Diante disso, cabe discorrer sobre os fatores históricos que se tornaram obstáculos para a exaltação da labuta feminina, bem como apontar a ineficiência do poder público em enfrentar esse quadro de irrepresentatividade trabalhista.
Com efeito, as origens da nação são um grande desafio para que a luta contra a falta de reconhecimento sofrida pelas cidadãs do Brasil seja efetiva. Isso porque, como explicitou o sociólogo canarinho Sérgio Buarque de Holanda, a sociedade brasiliense tem raízes no patriarcalismo, haja vista que os Senhores de Engenho, os quais compunham a elite colonial do país, detinham o controle dos corpos femininos - tanto das escravizadas quanto de suas esposas e filhas. É evidente, nesse sentido, que a mulher brasiliense passou por um processo de objetificação, o qual resultou na falta de visibilidade das realizações mulheris. Assim, atividades realizadas majoritariamente pela população feminina - como o trabalho de cuidado - são, ainda hoje, relegadas a um segundo plano social, resultando no apagamento laboral das mulheres na sociedade nacional vigente.
Outrossim, é notória a ineficácia estatal no combate à invisibilidade das cuidadoras no Brasil. Sob esse viés, o filósofo neocontratualista John Rawls afirmou ser papel do Estado promover a equidade populacional, isto é, a igualdade entre os diferentes - o que significa um igual reconhecimento de todas as profissões. Evidencia-se, no entanto, que tal preceito não ocorre no país, em razão da insuficiência de políticas públicas que visam à valorização das mulheres que realizam as atividades de auxílio. Dessa maneira, uma grande parcela populacional acaba ignorada pelo governo verde e amarelo e, consequentemente, esquecida pelo povo brasiliense.
Em suma, o quadro histórico do território e a inação governamental são graves entraves para a reversão da condição de invisibilidade que assola as assistentes do Brasil. Nesse âmbito, urge que o Ministério da Educação - órgão máximo responsável pela formação cidadã e pela transmissão dos saberes - eduque a população brasileira acerca do papel feminino no auxílio os necessitados. Para tal, por meio de um plano nacional, deve ser destinada verba para a veiculação de comerciais sobre a participação mulheril no cuidado de milhares de brasileiros, a fim de difundir o protagonismo das cuidadoras e vencer os estigmas da história patriarcal da pátria. Desse modo, vivências como a de Celie, e de muitas brasileiras, deixarão de ser comuns na nação.