O filósofo Karl Marx afirma que o Estado defende os direitos da burguesia, classe dominante, negligenciando às demais, no contexto da assimetria de poderes presente no capitalismo, sistema que divide a sociedade em grupos com muito poder e sem poder. De modo análogo, nota-se, também na sociedade brasileira a divisão de grupos mencionada por Marx, visto que há desafios para a garantia de uma alfabetização na idade certa, isso por que a desigualdade no Brasil em conjunto com a priorização de uma parcela social impede o acesso igualitário de determinados meios. Desse modo, cabe analisar não só o descaso estatal como ampliador, mas também o silenciamento populacional.

Diante desse cenário, é notório que o negligenciamento Governamental amplia a problemática, uma vez que falha na função de solucionador de mazelas sociais, como a falta de investimentos de escolas infantis para periferia e no auxílio monetário para transportes, dificultando o acesso igualitário à educação. Em “Cidadania Mutilada”, Milton Santos defende que a democracia atinge a plenitude da sua eficácia quando o corpo social, em sua totalidade, são homogeneamente desfrutados. Entretanto, essa eficácia está distante da realidade brasileira, isso porque o governo não proporciona investimentos na educação infantil, falhando no principal dilema da democracia -direitos iguais para todos-. Consequentemente, surge uma distorção série-idade fazendo com que todo o aprendizado seja prejudicado. Logo, é inaceitável que o governo continue omisso como mediador dos problemas sociais.

Ademais, a falta de debate sobre a educação infantil na idade certa dificulta que haja ênfase no assunto, tornando-o praticamente inexistente e, consequentemente, não havendo busca por soluções. Além disso, essa falta de atenção acoberta outros problemas, como a existencia do trabalho infantil, onde as famílias, por motivos financeiros, se veem obrigadas a colocar suas crianças para trabalhar desde cedo, comprometendo tanto o seu presente quanto o seu futuro. A filósofa Simone de Beauvoir definiu o fenômeno “Invisibilidade social” como a forma negligente de priorizar mais um grupo que outros. Nesse sentido, nota-se essa perspectiva condizente com a da sociedade brasileira, pois a dificuldade do acesso à educação primária é uma realidade somente de comunidades carentes que, por sua vez, precisam escolher entre dar uma educação adequada para seus filhos ou garantir as necessidades básicas, erguendo muros que dificulta ainda mais o futuro dessas crianças.

Portanto, é preciso medidas para superar os desafios e garantir alfabetização na idade certa. O Estado em conjunto às políticas públicas deve providenciar melhorias nas escolas infantis e transportes, por meio de investimentos monetários em transportes públicos e infraestrutura de escolas, a fim de proporcionar acesso à escolas distantes possibilitando a educação na idade certa. Além disso, é urgente que o Ministérios da educação e o Ministério da cidadania criem programas sociais, como auxílios monetários, para que as famílias não precisem colocar as suas crianças precocemente para trabalhar, com o intuito de acabar com a distorção idade-série. Somente assim, a priorização de grupos citada por Marx e Simone acabará.