Em sua obra "Ensaio sobre a cegueira", o escritor português José Saramago descreve uma cidade fictícia na qual, paulatinamente, as pessoas vão ficando cegas. Na trama, o autor usa dessa alegoria para criticar a falta de altruísmo e cooperação no mundo contemporâneo, em que os indivíduos se preocupam cada vez menos com o bem-estar coletivo. Ao transpor a ficção e analisar a atual conjuntura brasileira, percebe-se que a obra exemplifica a realidade vivenciada no país, uma vez que a violência nas escolas brasileiras representa um problema que não recebe a devida atenção no território nacional. Nesse contexto, deve-se analisar como a negligência estatal e o violência impulsionam tal problemática, com o intuito de solucioná-la.

Diante desse cenário, nota-se a inoperância governamental como fator agravante da violência no Brasil. De acordo com o geógrafo Milton Santos, em seu texto "As Cidadanias Mutiladas" , a cidadania atinge a plenitude de sua eficácia quando os direitos do corpo social, em sua totalidade, são homogeneamente desfrutados. Todavia, no contexto hodierno, a passividade do Estado distancia pessoas que possam ter problemas psicológicos dos direitos constitucionalmente garantidos, à medida que esses problemas possam resultar em mortes e violência. Dessa forma, enquanto a máquina pública negligenciar suas responsabilidades, o problema perdurará e os direitos dos cidadãos continuarão a ser mutilados de forma sistemática.

Ressalta-se, ademais, que a violência potencializa esse cenário. Nesse viés, segundo instituto projeta cerca de 6,7 milhões de brasileiros foram diretamente atingidos pela violência escolar. Diante de tal exposto, é necessário tomar medidas para solucionar o empasse. Em decorrência disso, mantém-se o quadro de ausência de ações sociais efetivas no que tange à reversão desse contexto, fragilizando, com isso, a cidadania plena no país. Dessa forma, é imprescindível combater a violência visto que é uma das causas fundamentais do problema.

Diante do exposto, denota-se a urgência de propostas governamentais que alterem esse quadro. Portanto, cabe ao Estado, em sua função de promotor do bem-estar social, promover palestras de conscientização dentro dos âmbitos escolares. Tal ação terá como finalidade diminuir o número de pessoas violentadas dentro das escolas. Assim, à luz da perspectiva de Saramago, poderemos mitigar a cegueira moral que permeia essa questão.