Voltei da escola, e, com pouco tempo depois, minha mãe pediu para que eu fosse a uma mercearia que havia perto da esquina da nossa rua, eu ainda não havia tirado o uniforme, mas fui logo. Eu estudava em colégio particular do nosso bairro. Naquele dia da semana, as aulas acabavam mais cedo, e o horário de saída da minha escola era o mesmo horário de saída de uma escola pública do mesmo bairro. Indo à mercearia, dei de cara com vários alunos dessa escola voltando para suas casas, fui para calçada que dava caminho ao estabelecimento, e vi duas meninas conversando, nossos caminhos iam se cruzar. Enquanto eu andava tranquila, uma das meninas disse:
- Nossa, não gosto dessas meninas de colégio particular -E esbarrou em mim de propósito.
No começo foi um pouco revoltante, mas depois até que foi engraçado, porque ela não me conhecia, e, se conhecesse muito provavelmente repensaria seu posicionamento. O fato de eu ter tido acesso a uma educação privada não queria dizer que eu era privilegiada, e muito menos o fato de ela ter uma educação pública não queria dizer que ela era menos que eu. Foi engraçado porque ela só viu a minha farda, não minha situação pessoal, até que é comum encontrarmos situações assim. Muito provavelmente nós tínhamos condições financeiras e várias outras coisas parecidas.
Sabe o que foi mais engraçado? No ano seguinte fui estudar na mesma escola que ela (por questões financeiras), queria que ela tivesse visto, ia ser mais engraçado ainda.