No filme “Nasce uma Estrela”, Jackson Maine é um músico talentoso que faz uso de substâncias lícitas e ilícitas para aplacar a dor ocasionada por traumas do passado. Quando a embriaguez passa a afetar sua vida profissional e amorosa, o cantor busca uma clínica para se desintoxicar. Fora da ficção, assim como Jackson, muitos brasileiros fazem uso diariamente de drogas psicotrópicas para escapar de uma realidade dolorosa, no entanto, sem a perspectiva de tratamento. A partir desse contexto, a fim de se propor uma medida para erradicar esse problema de saúde pública, é necessário entender o que motiva a falta de assistência aos dependentes químicos, bem como o impacto do abandono sistemático dessa parcela da população.


Com efeito, a omissão estatal se destaca como principal causa da dificuldade de acesso ao tratamento. Isso ocorre porque as instituições responsáveis por políticas de amparo e reinserção social de dependentes químicos são ineficientes – são o que o sociólogo Zygmunt Bauman definiu como “Instituições Zumbi”: estruturas que não cumprem a função social determinada pelo Estado. Logo, a dificuldade em tratar os dependentes se manifesta como um sintoma da negligência da máquina pública, que move dinheiro e cria cargos, mas não se responsabiliza por seus cidadãos.

Ademais, é possível depreender que a persistência desse problema de saúde pública contribui para um genocídio silencioso. Tal questão ocorre porque o processo de produção capitalista, fez das pessoas consumidoras, não cidadãs. Dessa maneira, como explica Ailton Krenak, filósofo e líder indígena, os que não consomem são deixados à margem – assim, em casos mais graves. os adictos, sem cidadania, podem morrer sem receber assistência e por vezes, em situação de rua, tornam-se vítimas de violência policial.


Portanto, percebe-se a urgência em promover melhoras na qualidade de vida desses cidadãos. Para isso, é fundamental que o Poder Executivo Federal, mais especificamente o Ministério da Saúde, invista na atualização dos programas de tratamento dos dependentes químicos, além da capacitação de profissionais de saúde para lidar com usuários de substâncias psicotrópicas. Tal iniciativa ocorrerá por meio da implantação de um “Projeto Nacional de Desintoxicação Humanizada”, o qual deve atender dependentes químicos que buscam a reinserção social, a fim de acolhê-los de maneira que alcancem a autonomia novamente. Afinal, é chegada a hora em que o Brasil deixará de fugir dessa grave realidade.