"O branco inventou que o negro quando não suja na entrada vai sujar na saída". O trecho faz parte da música "A mão da limpeza", de Gilberto Gil, lançada em 1984. É perceptível no fragmento que, mesmo após 96 anos da abolição da escravatura (Lei Áurea - 1888), a música faz menção à herança racista deixada pelos antepassados que, ainda hoje, permeia na sociedade por meio do racismo exposto e estrutural.

De acordo com a pesquisa realizada pelo PoderData, em 2020, 81% dos entrevistados responderam que existe preconceito contra negros no Brasil, 7% a menos que os questionados em 1995 (89%), demonstrando, assim, uma menor percepção da sociedade como um todo, especialmente da luta e da resistência negra frente aos desafios cotidianos. Ainda, 34% daqueles que responderam, afirmaram serem racistas contra negros, comprovando a persistência da discriminação na atualidade.

Mesmo a Lei Antirracismo prevendo o crime de racismo por raça ou cor, pouco se discute sobre o racismo enraizado na população, denominado "racismo estrutural". É possível percebê-lo na organização e no cotidiano de uma sociedade, como, por exemplo, a pequena quantidade, ou até mesmo ausência, de negros em cargos de liderança nas maiores empresas do país e nos altos cargos dos Poderes Públicos; outro exemplo é o uso de expressões linguísticas racistas comuns, como: ovelha negra, denegrir, mercado negro, dentre outras tantas.

Portanto, a cultura racista ainda está muito presente na atual sociedade e dialogar sobre ela se mostra cada vez mais necessário. Dessa forma, o ensino nas escolas, desde a tenra idade, sobre o racismo estrutural e suas manifestações, bem como a informação da existência de ações afirmativas é importante, visando à superação da ignorância e a possível mudança de atitude por parte da nova geração. Além disso, cabe ao Poder Judiciário um olhar mais crítico em relação às manifestações de racismo e a aplicação de suas devidas sanções, como previsto no ordenamento jurídico brasileiro.