Na música intitulada "Deus lhe pague" o compositor Chico Buarque agradece, utilizando a ironia, o "chão" como o local garantido pelo Estado para os brasileiros dormirem. Na atualidade, os lugares utilizados pelas pessoas em situação de rua como abrigo estão sendo construídos de formas que impossibilitam sua utilização para esse fim. Isso se deve à uma prática cada vez mais comum, conhecida como Arquitetura Hostil que é reflexo da segregação das camadas mais pobres e negligência do Estado com pessoas em situações vulneráveis.
Sob um primeiro olhar, destaca-se uma prática comum no Brasil excluindo as pessoas de classes baixas o acesso a lugares específicos. Por exemplo, na construção de Brasília, capital do país, vários operários deslocaram-se do nordeste em busca de melhores oportunidades de trabalho. Posteriormente, esse grande expoente de moradores teve que se deslocar para áreas precárias, fora da cidade que eles construíram. Deste modo, hoje, se planejam locais que impedem pessoas sem moradia, um grupo marginalizado, de estarem nos mesmos lugares que o restante da população. Retratando na prática a segregação socioespacial presente em nosso país.
Ademais, o Governo brasileiro negligência às necessidades deste grupo, ignorando sua situação de risco. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada a população em situação de rua entre 2019 e 2022 atingiu 281472 pessoas. Mesmo representando um número expressivo da sociedade direitos básicos como a saúde e a educação são negados a eles. Em adição, não há nenhuma legislação que restrinja a construção de locais segregadores, sendo eliminada um local seguro podendo servir de abrigo.
Portanto, cabe ao Poder Legislativo Federal criar leis que proíbam a construção de espaços segregadores para que pessoas em situação de rua tenham ao menos abrigo. Além disso, cabe ao Estado garantir os direitos à essas pessoas, criando empregos dignos para que assim essas pessoas tenham a oportunidade de se inserir na sociedade e não mais necessitar de acalento nas ruas.