No quadro "A persistência da memória", de Salvador Dalí, o tempo é representado na forma de relógios derretidos, que demonstram sua fugacidade e limitação. No dia a dia, é assim que os brasileiros percebem o seu tempo: cada vez mais fugaz, limitado, com horas e horas perdidas no trânsito.

De acordo com a pesquisa divulgada durante o evento Summit Mobilidade Urbana 2019, os brasileiros perdem 32 dias do ano no trânsito. Mais de um mês é perdido simplesmente para se exercer o direito de ir e vir. Fruto de uma gestão municipal deficitária, com malhas viárias pobres e ineficazes, poucas alternativas aos meios de transporte tradicionais, o povo sofre todos os dias buscando meios mais eficientes para se locomover, especialmente nas grandes cidades.

Além do tempo perdido diariamente, há ainda a questão da segurança : à má gestão do tempo soma-se o estresse causado pela insegurança que a violência no trânsito oferece, contribuindo para o aumento da incidência de doenças psicológicas como ansiedade, depressão e estresse pós - traumático. O resultado é uma sociedade doente e cansada, que tem sua produtividade diminuída graças às longas horas perdidas diariamente no trânsito.

É necessário que haja uma reestruturação do transporte e das vias públicas - cabe às prefeituras implementar e divulgar meios de transporte alternativos, como caronas compartilhadas, ciclismo e rodízio eficaz de veículos, melhorando o gerenciamento do tempo de seus habitantes, evitando que se perca tantos dias do ano simplesmente para se locomover. Assim, poderemos apreciar a obra-prima de Dalí apenas como um exemplo do surrealismo, sem a necessidade de estabelecer uma relação entre ela e nosso gerenciamento de tempo.