O filme "Que horas ela volta?", protagonizado por Regina Casé, conta a história de uma empregada doméstica nordestina que precisou mudar de cidade para conseguir uma renda financeira adequada. Ao longo da trama, é possível perceber as relações da funcionária com seus chefes de classe média alta, que apesar de considerá-la da família, a deixam dormir em um cubículo e a pagam mal. Fora da ficção, é fato que a realidade apresentada assemelha-se ao cenário atual do Brasil, na qual a ideia de que é dever das mulheres realizaram as tarefas domésticas e a desigualdade social fomentam os desafios para o enfreamento da invisibilidade dos serviços de cuidado realizados pela mulher no país.
Sob essa perspectiva, faz-se necessário frisar que desde os primórdios a sociedade acredita que o gênero feminino tem a obrigatoriedade de cuidar da família e do lar. A canção "Triste, louca ou má", produzida por Francisco el Hombre, narra em seus versos o machismo estrutural e a cultura patriarcal de que a mulher necessita cumprir seu papel: o de zelar pelo marido e filhos e limpar a casa. Dessa forma, compreende-se que tal crença social reforça as disparidades de gênero e amplifica o desequilíbrio na distribuição dos afazeres domésticos no âmbito família. Logo, as chances de que as mulheres consigam emprego e independência tornam-se cada vez mais inimagináveis.
Ademais, deve-se destacar que a desigualdade social gera uma nova problemática, uma vez que as comunidades periféricas ocupam os cargos empregatícios de cuidado mais precarizados de suas regiões. Segundo o sociólogo alemão Karl Marx, antes do nascimento de cada ser, as condições econômicas dos indivíduos já estão pré-estabelecidas, dificultando a ascensão social e a busca por uma melhor qualidade de vida. Sob esse viés, evidencia-se que as mulheres mais carentes não apresentam escolha e são obrigadas a exercerem os trabalhos não remunerados e mal pagos, enfrentando a desvalorização de seus esforços e a persistência dos preconceitos de cor e etnia. Como consequência, a luta pela igualdade de gênero e amparo estatal tornam-se invisíveis perante as massas.
Portanto, é mister que o Estado tome providências que amenizem o quadro atual. Para a conscientização da população perante o problema, urge que o Governo Federal implemente, por meio de subsídios tributários estaduais, órgãos que estabeleçam a criação de um salário destinado a mulher que realiza tarefas domésticas, valorizando os trabalhos exercidos nesta área e detalhando sua importância para a manutenção do país. Além disso, é necessário o cumprimento dos artigos inscritos na Constituição Federal de 1988, assegurando que todas as empregadas do lar possuam seus direitos plenamente cumpridos. Somente assim, o Brasil constituirá uma sociedade igualitária e livre de estigmas sociais.