Em seu poema "No meio do caminho", o poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade retrata, figuradamente, os obstáculos enfrentados pelo ser humano durante sua jornada. Em analogia a isso, a persistência do preconceito linguístico é um contratempo na contemporaneidade brasileira, visto que esse se origina na construção de um padrão linguístico, que considera como errado todas as variações que diferem do modelo imposto. Destarte, é fundamental analisar essa problemática, cujas principais causas são as diferenças socioeconômicas e a aversão aos regionalismos típicos de algumas áreas do país.

É imprescindível, a princípio, citar que a intolerância linguística surge nas diferenças econômicas e sociais brasileiras. Isso se dá pelo fato das classes menos favorecidas do Brasil, geralmente, dominarem as línguas mais informais, devido às oportunidades limitadas e às dificuldades enfrentadas no decorrer da vida escolar. Prova disso é que, segundo pesquisas feitas pela Fundação Lemann, em 2019, as escolas públicas do Brasil são frequentadas por cerca de 70% das crianças do país, porém somente metade delas saberão ler antes dos 8 ou 9 anos e, quando chegarem aos 21, apenas 15% estarão na universidade. Logo, verifica-se uma falha no sistema educacional, corroborando para que o preconceito linguístico se perpetue.

Ademais, é importante destacar que a aversão aos regionalismos típicos de algumas áreas do país, juntamente às diferenças socioeconômicas, acentuam o preconceito linguístico. Nesse contexto, tristemente, a existência do prejulgamento acerca de outras modalidades da língua características de certas regiões do país é um reflexo da valorização de um padrão linguístico criado pela consciência coletiva. No entanto, segundo Michel Foucault, filósofo e ativista francês, para que ideias errôneas construídas ao longo da história sejam desmistificadas, é necessário que as pessoas saibam que são mais livre do que pensam. Assim, mudanças nos valores da sociedade mostram-se fundamentais.

Fica nítido, portanto, que a persistência do preconceito linguístico no Brasil ainda é um problema recorrente. Com o objetivo de amenizar esse quadro lamentável, é imprescindível que o Ministério da Educação, em ação conjunta ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, por meio de suas secretarias educacionais estaduais e municipais, inclua nos materiais didáticos multidiciplinares a abordagem do tópico "variações linguísticas", enfatizando assim a questão dos dialetos. Somado a isso, a mídia pode auxiliar, fomentando a difusão de informações acerca do preconceito linguístico, por intermédio dos meios de comunicação de massa, como a radiofônica e televisiva, a fim de alcançar uma maior parcela da população. Assim, como disse Paulo Freire: "Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda".