No longa cinematográfico "Eu, Tonya", é narrada a história real da patinadora Tonya Harding que, com frequência, sofre abusos físicos e psicológicos de seu cônjuge ao longo de sua trajetória. Em paralelo à trama, no Brasil, milhares de mulheres ao longo dos anos são vítimas de pelo menos um tipo de violência. Lamentavelmente, a persistência da violência contra a mulher no Brasil é um problema que se perpetua majoritariamente por via da ineficácia penal e da falta de informação e conhecimento.
Em primeiro plano, dados do Conselho Nacional de Justiça, do Departamento Penitenciário Nacional e da Secretaria de Política para as Mulheres apontam que, dos mais de trezentos mil casos envolvendo violência contra a mulher que chegam aos juizados e varas especializadas, apenas cerca de onze mil prisões são efetuadas. Diante dos dados expostos, conclui-se que a ineficácia penal e das leis vigentes que, por sua vez, corroboram para uma grande taxa de impunidade aos crimes, é um dos principais contribuintes à perpetuação dos mesmos. Nesse contexto, em virtude da grande taxa de impunidade, não é de se espantar que os índices de feminicídios ocorridos em solo nacional cresçam exponencialmente ao decorrer dos anos.
Ademais, a falta de informação é, também, indubitavelmente um forte empecilho no combate a esse tipo de violência. Na canção "Ultraviolence", da cantora americana Lana del Rey, a mesma revela: "Ele me bateu e eu senti como se fosse um beijo". A artista, na música, evidencia estar sendo agredida, todavia estando alheia ao fato de estar sofrendo violência, o que para ela soa como carinho por falta de conhecimento. Tal situação lastimavelmente não se distancia da realidade de uma grande parcela da população feminina em nosso país, na qual as vítimas de abuso sequer se dão conta de estarem sendo vítimas por conta da falta de conhecimento e informação sobre o que exatamente é um abuso, que acaba por gerar uma perspectiva normalizada e, por vezes, romantizada das violências sofridas por parte de seus parceiros, fazendo assim com que essas vítimas se tornem passivas às agressões e acabem não denunciando.
Em suma, urge-se a necessidade de medidas estatais a fim de contornar as questões expostas. Para combater tais problemas, cabe ao Estado - em sua função de promotor do bem-estar social -, por meio de projeto de lei entregue à Câmara em parceria com o Ministério das Mulheres, a criação e distribuição de cartilhas de conscientização sobre o que são abusos, machismo, atitudes violentas e com informações úteis sobre auto defesa e meios de denúncia rápidos em locais públicos como postos de saúde, hospitais, escolas e faculdades a fim de que se cultive uma população feminina melhor informada sobre a violência à mulher e como agir em relação isso. Nessa conjuntura, espera-se que a persistência da violência contra a mulher no Brasil seja um problema contornado e que a história de Tonya deixe de ser um retrato do cotidiano para se tornar uma lembrança de qual caminho não devemos seguir como sociedade.