A literacia familiar consiste em práticas entre crianças e responsáveis que permite maior contato com a linguagem oral desde primeira infância. Embora a leitura infantil apresente contribuições significativas ao auxiliar no processo de alfabetização, a temática ainda não é popularizada no Brasil. Sob esse viés, pontua-se as desigualdades sociais e a fragilidade das relações contemporâneas como principais entraves na implementação da literacia familiar.
De início, constata-se a impossibilidade de criar-se o hábito de leitura em um país marcado pelas desigualdades. A Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, assegura a todos os indivíduos direitos como moradia e alimentação. Todavia, tais garantias não são executadas o que faz com que configure no Brasil o conceito de Cidadania de Papel no qual as leis existem e são negligenciadas pelo Estado. É perceptível, portanto, a impossibilidade de se popularizar a leitura por familiares na infância tendo em vista que no país parte da população sobrevive em condições indignas.
Em segundo lugar, é válido postular as frágeis relações contemporâneas como responsáveis pela desvalorização da literacia familiar. Para Zygmunt Bauman, com o fim das instituições sociais - família, Estado e religião- a sociedade é marcada por relações líquidas e instáveis. Sendo assim, a interação entre familiares é substituída pela rotina exaustiva de trabalho e pelo consumo de telas como atividade de lazer o que limita a participação significativa dos pais na vida dos filhos. Enfim, com a mudança nos valores da Modernidade Líquida, a leitura infantil não recebe sua devida importância muito menos é tratada como prioridade.
Diante dos desafios supramencionados, constata-se a importância da literacia familiar e a urgência de sua efetivação. Ao visar atingir as raízes da problemática, cabe ao Governo Federal ampliar políticas públicas de combate à miséria como "Bolsa Família" e auxílio moradia a fim de proporcionar condições dignas que estimulem a prática da literacia nas camadas mais carentes. Por sua vez, as crianças usufruirão dos benefícios do contato com a leitura, enquanto a Constituição brasileira finalmente romperá com a Cidadania de Papel.