Segundo o sociólogo francês Jean Baudrillard, a pós-modernidade é uma era na qual os símbolos e as imagens têm mais importância que a própria realidade e por isso, para “assassinar" uma pessoa é preciso apenas “deletar” sua imagem. Incontestavelmente, Baudrillard definiu o significado e a essência da cultura do cancelamento, a qual é extremamente nociva, haja vista que tal cultura baseia-se na intolerância e consiste numa maneira ineficiente de punição.

Mormente, faz-se relevante destacar que o linchamento virtual é uma prática repugnante. No livro "Todos Contra Todos: O Ódio Nosso de Cada Dia", Leandro Carnal explicita sua teoria de que, nas sociedades contemporâneas — principalmente na brasileira — , as pessoas não vêem o ódio em si mesmas, apenas no outro. Em consonância à teoria do filósofo, o ato de cancelar alguém devido aos seus desvios de conduta é um ciclo de ódio, já que o cancelado é tratado de maneira análoga aos seus feitos, ou seja, com intolerância. Como consequência, há a consolidação de um corpo social pautado na malevolência. Dessa forma, evidencia-se a necessidade de mudar a mentalidade das pessoas acerca da forma de punição predominante.

Ademais, vale ressaltar que a comunidade não busca mudar o cancelado. Conforme Michel Foucault, a maneira como as sociedades punem é ineficaz, posto que não é observado a reintegração do punido. Não distante da teoria de Foucault, a cultura do cancelamento não visa ensinar e ajudar os cancelados a terem uma boa conduta, já que consiste apenas em ignorá-los. Com efeito, pessoas anuladas não são reestabelecidas na sociedade. Logo, o linchamento virtual é um hábito ineficiente que deve ser devidamente combatido.

Dessarte, tendo em vista a inoperância do anulamento virtual, medidas são necessárias para combatê-lo. O Ministério da Educação — responsável pela educação e conscientização da população — deve criar um projeto educativo que combata comportamentos motivados pelo ódio, por meio de propagandas em canais televisivos de grande audiência e postagens nas redes sociais, a fim de erradicar o linchamento virtual. Outrossim, a sociedade deve optar por criticar e incentivar a mudança do comportamento dos famosos , ao invés de cancelá-los. Somente assim, a teoria de Jean Baudrillard deixará de ser associada à cultura do cancelamento.